quinta-feira, 20 de agosto de 2015

As listas do CDS-PP (9). Agitar antes de usar.

O processo de formação das listas encontra-se ainda na fase 4.

Segundo o "Jornal de Notícias" de anteontem, «vários conselheiros [nacionais] do CDS estarão a apelar a Paulo Portas para a marcação de um Conselho Nacional Extraordinário para “reavaliar as listas de candidatos a deputados” já apresentadas».

Esta agitação – e outras de que a imprensa foi dando nota, a seguir à reunião do Conselho Nacional em 30 de Julho – é invulgar no CDS-PP. E é sinal do mal-estar que a absoluta centralização do processo gerou no partido. Apesar da votação esmagadora no Conselho, os ecos ainda ribombam duas semanas depois; e fizeram mazelas.

Segundo o mesmo JN, os descontentamentos diriam respeito a «Raul Almeida, em Aveiro; Altino Bessa, em Braga; João Gonçalves Pereira, em Lisboa; Teresa Anjinho, em Santarém; Miguel Pires da Silva, no Porto; Paulo Almeida, em Coimbra; e João Viegas, em Setúbal».

A probabilidade da reunião, aparentemente pedida, é nula. Mas há razões para o mal-estar.

Raul Almeida foi relegado para o sétimo lugar do CDS em Lisboa (o 24º da coligação), vendo o seu lugar em Aveiro "conquistado" pelo secretário-geral, que é de Lisboa. Altino Bessa foi afastado do seu lugar de eleição directa, em Braga, contra votação unânime da Assembleia Distrital. João Gonçalves Pereira, em Lisboa, foi empurrado para 32º da coligação, o nono do CDS. Teresa Anjinho foi surpreendentemente afastada das listas, o que só conheceu em cima do Conselho Nacional: nem em Aveiro, nem em Coimbra – e, pelos vistos, podendo ser repescada para a misteriosa vaga de Santarém, também daí foi arredada. Miguel Pires da Silva, o presidente da JP, aspiraria a ver honrada a tradição de o Presidente da “jota” estar em lugar elegível, neste caso no Porto – e foi empurrado para um lugar impossível em Coimbra, melindrando o distrito e não ganhando nada para a “jota”. E o setubalense João Viegas viu premiado o seu desempenho por Setúbal, com um empurrão pela escada abaixo.

O caso de Aveiro está envolvido em muitas discussões, mas é estranho que o distrito que mais subiu em posições qualificadas autárquicas receba este tratamento de volta. O caso de Teresa Anjinho é dos mais particularmente chocantes em todos os ocorridos, pois foi uma nova deputada que se destacou pela positiva e pela muito sólida competência técnica, recuperando para o CDS um prestígio parlamentar que tinha perdido há muito nas áreas do Direito e da Justiça, além de dar a cara em muitas questões difíceis. Coimbra também deu belas provas parlamentares tanto com Serpa Oliva, como através de Paulo Almeida, que o substituiu a meio do mandato e que, estreando-se, deu mostras de grande dedicação e diversificada competência – mas o partido nem guardou o lugar conimbricense, que, em listas conjuntas, seria sempre de eleição muito difícil, à semelhança do de Abel Baptista em Viana do Castelo. O jovem Gonçalves Pereira, que brilhou em vários dossiers autárquicos, viu premiado o seu trabalho político, articulado com uma sólida posição na autarquia de Lisboa, com outro empurrão pela escada abaixo. E quer Altino Bessa (já mais conhecido), quer João Viegas (outro estreante) provaram pela dedicação constante e pela capacidade de trabalho – e Altino pela combatividade política - tanto em matérias que lhes foram distribuídas em exclusivo, como em articulação com os mais relevantes interesses distritais de Braga e Setúbal.

Como repetidas vezes tenho dito, o problema do grupo parlamentar do CDS não estava na qualidade dos deputados, que é individualmente boa ou muito boa e claramente na metade superior das médias parlamentares. O problema era apenas do sistema, centralizado, dirigista, não participado e nada democrático, como emana do estilo actual do partido.

Ora, olhando já à próxima legislatura, o sistema, para já, começa muito pior. E perderam-se já belíssimos deputados, a par de se romper a já frágil relação com as bases. Daí o mal-estar e a agitação.

Muitos verão aqui uma simples dança de cadeiras e guerra de ambições. Mas, neste caso, é bem mais do que isso – e um caso mais sério. Chama-se representatividade; e reconhecimento (ou desprezo) pelo mérito e dedicação.

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