sexta-feira, 7 de agosto de 2015

As listas do CDS-PP (2). Autoritarismo, puro e duro.



Não me recordo de umas listas feitas assim, em toda a história do CDS: se o CDS-PP tem hoje um grupo parlamentar de 24 deputados, todos os primeiros 24 candidatos às próximas eleições - os "elegíveis" - foram escolhidos, designados e colocados pelo Presidente do partido. 

Era hábito haver um Regulamento de candidaturas, que regula o processo de escolha a nível distrital e fixa, acima disso, a chamada "quota nacional" e os limites do poder de designação do Presidente e da direcção nacional. É, aliás, aquilo que os Estatutos estipulam. Desta feita, nem isso foi feito.

No primeiro ciclo da presidência de Paulo Portas (1998/05), a questão da "quota nacional" foi algumas vez discutida. É que parecia injusto que, com grupos parlamentares de 14 ou 15 deputados, todos os efectivamente eleitos acabassem por ser os escolhidos pelo líder, uma vez que indicava os dois a quatro primeiros de Lisboa e Porto e, depois, todos os demais cabeças-de-lista - e, noutros círculos, o CDS só elegia precisamente 1 deputado.

Quando fui Presidente (2005/07), defini que o Presidente só teria o poder de designar até 1/3 do previsível grupo parlamentar (isto é, 1/3 dos "elegíveis") e concentraria essas escolhas nos círculos onde elegêssemos mais do que um deputado. A ideia era a de, numa lógica de crescimento, não penalizar o trabalho político dos distritos que se esforçassem por conquistar ou manter representação  parlamentar, "roubando-lhes" o deputado a que fizessem jus. Não cheguei a fazer listas, pois o meu mandato não chegou ao fim, como é sabido. Mas alguma coisa ficou dessa evolução. 

Assim, no segundo ciclo da presidência de Paulo Portas (2007/...), quer em 2009, quer em 2011, Paulo Portas teve de articular com os distritos muitas das escolhas, nomeadamente nas zonas de crescimento. Nos círculos de "crescimento", o cabeça-de-lista passou a ser do distrito; e, noutros, o segundo candidato, a seguir ao cabeça-de-lista. Foi o caso de Hélder Amaral, Serpa Oliva (e, depois, Paulo Almeida), Abel Baptista, Artur Rego, Altino Bessa, Manuel Isaac, Raul Almeida e João Viegas. E, mesmo nos círculos de Lisboa e Porto, não será difícil encontrar entre os quatro a cinco primeiros de 2009 e 2011, candidatos estreitamente envolvidos no trabalho distrital, sendo impossível discernir se eram da "quota nacional", se de escolha distrital.

Agora, voltou-se duramente para trás; e seguiu-se, de modo brutal, um autoritarismo total, que nunca existira: "São 24? Pois escolho 24!" O Presidente decidiu. Está decidido.

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