quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Texto escrito em 2008, de acordo com o meu acordo «ortográfico»

Ao longo dos anos tem-se tornado para mim numa evidência o divórcio crescente entre o público e a classe politica portuguesa.
Esse divórcio assenta no abismo entre as expectativas do público sobre o que o «governo» pode fazer pelo País e aquilo que o «governo» está disposto a fazer pelo País.
É o paradoxo democrático: as maiorias são eleitas para governar e depois governam para ganhar eleições.
Isto tem a ver com o sistema dos partidos. Os partidos são imprescindíveis ao funcionamento da democracia representativa, mas só são úteis enquanto são fieis aos seus valores.
Os partidos formam-se à volta de núcleos matriciais de ideias e valores. É desse caldo de cultura que decorrem os seus programas e propostas, articulados à volta de um projecto de sociedade e de uma visão para o País.
Quando os partidos perdem de vista aquilo que foi a causa da sua formação e passam a tratar as opções politicas, as escolhas de fundo, como um «mercado eleitoral» em que se vendem «produtos» em nichos de mercado de causas populares que «rendem» votos, os cidadãos ficam privados de alternativas politicas e de escolha de modelo de sociedade.
Uma sociedade assim é uma sociedade bloqueada. É o caso da sociedade portuguesa, em que ao bloqueio das opções politicas de fundo, se chamou «consenso social».
O «consenso social» em que vivemos, baseado em mil e um grupos de interesses, sindicatos e corporações várias, não gravita à volta do interesse público mas procura satisfazer os muitos interesses daqueles que têm forma de pressão sobre o Estado. Aos outros, resta viver habitualmente e pagar impostos.
Qualquer português mediamente informado devia saber hoje que o que pode esperar do partido que governa o País, é o mesmo que podia esperar do partido que perdeu as últimas eleições.
Em suma, os portugueses votam sem opções, em partidos cada vez mais iguais na sua prática governamental e dos quais esperam cada vez menos. Espanto seria que não se abstivessem cada vez mais e não descressem da classe politica crescentemente.
Há 25 anos filiei-me no CDS, um partido democrata-cristão, assente nos valores da defesa da vida e da família, na economia social de mercado, na valorização do povo português e na defesa inteligente da nossa soberania nacional.
Ao longo desses 25 anos esse partido passou por altos e baixos mas guardou o essencial dos seus valores e procurou, nos governos de que fez parte, marcar a diferença.
Hoje verifico que esse partido, depois da sua última experiência governamental, ganhou o gosto do poder e perdeu o sentido dos seus valores; Ao ponto de encarar agora como normal viabilizar nas próximas eleições quem quer que as ganhe... com maioria relativa.
Deixei de me rever num partido cujo último objectivo é apenas o de partilhar do «consenso nacional» à mesa do Conselho de Ministros, com os outros.

Decidi desfilar-me do CDS. A minha esperança é que quer à direita, quer à esquerda haja cada vez mais gente a compreender que sem opções claras e escolhas de fundo a fazer pelo povo português, não há democracia real e um dia a casa vem abaixo... e cai-nos em cima.

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