segunda-feira, 15 de abril de 2013

Tolerância zero, coesão mil

Foto: National Post

Podia ter sido comigo. Podia ter sido com qualquer um de nós. Podia ter sido a tomar o pequeno-almoço com a minha mulher ou a abraçar os meus filhos. Podia ter ido buscar os meus netos. Podia estar a passear o meu cão. Podia estar a andar de bicicleta, num momento de descontracção. Podia estar a ler ou a estudar numa esplanada. Podia estar a trabalhar ali ao lado. Podia estar só a assistir ao final de uma corrida, a torcer por um atleta, a apoiar um último esforço, a entusiasmar-me por um sucesso. Podia estar a embarcar num avião ou já a voar. Ou podia ser num comboio, numa carruagem de metro, num autocarro, num cacilheiro. Podia ser em qualquer lugar, a qualquer hora, em qualquer segundo de azar, onde e quando nunca se está à espera.

É isto que faz tão odioso o terrorismo e tão absolutamente intolerável a ameaça contemporânea do terrorismo global.

Há anos que sustento que esta é a maior ameaça no mundo moderno. A mais sórdida também. Não ataca às claras – é cobarde, escondida, traiçoeira. Não enfrenta forças e poderes – alveja, fere e mata inocentes comuns. Não atinge unicamente a vida e a integridade das suas vítimas – é devastadora também para a segurança, para a liberdade, para a comodidade, para o normal desprendimento do dia-a-dia.

Nada, nem ninguém pode explicar e justificar esta brutal barbaridade em que, volta e meia, nos mergulham. A complacência é tão intolerável como o próprio terrorismo. É também o seu surdo aliado. É preciso erradicar de vez esta ameaça, começando pela sua completa, absoluta, radical ilegitimação. Seja qual for a “causa” que diga servir ou o sector “ideológico” onde se integre, o terrorismo global contemporâneo é a maior ameaça e a mais extensa violação contra os direitos humanos fundamentais. Acabemos com isto.

No Parlamento Europeu, iniciei, em 11 de Março de 2004, o estabelecimento do Dia Europeu em Memória das Vítimas do Terrorismo. Foi no dia dos atentados de Madrid. Ano após ano, tenho-me esforçado por dar mais visibilidade a essa data tão fundamental, uma data de consciência, de solidariedade. de memória, de determinação, de coesão. Muitas vezes, um esforço solitário. As últimas discretas evocações foram em Madrid e numa declaração em Bruxelas, no passado dia 11 de Março. Falta ainda também a declaração universal, no quadro das Nações Unidas, do Dia Mundial em Memória das Vítimas do Terrorismo, onde engasganços burocrato-diplomáticos têm complicado o caminho. É importante consegui-lo. É fundamental reforçar uma coesão de cimento e aço contra o terrorismo e todos os terroristas.

Conheci Boston há 35 anos. Uma cidade maravilhosa, com a sua costa recortada e o Charles River, o Logan Airport, arredores belíssimos, os seus parques e avenidas, carregada de carácter, de história e de tradição, sede de duas das mais reputadas e emblemáticas instituições universitárias dos Estados Unidos da América e do mundo: Harvard e o M.I.T. (Massachussets Institute of Technology).  

Boston não merecia esta chaga. Ninguém merece.

Nos atentados de hoje, que atingiram a chegada da Maratona de Boston, uma das duas vítimas mortais já declaradas é uma criança de 8 anos. Uma criança de 8 anos! Não pode ser.

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