domingo, 21 de abril de 2013

Brincar com a estabilidade política



Ontem, o EXPRESSO era um verdadeiro festival. 

A manchete de primeira página titulava: «Portas quer coordenar as áreas económicas», especificando que,«além da Agricultura e Segurança Social, líder do CDS quer "mandar" no Ministério da Economia.» A notícia era desenvolvida no interior. 

Noutra notícia, o título era «Portas quer rever metas do défice» e, desenvolvendo, escrevia-se a certa altura: «No fundo, o CDS quer o mesmo que o PS - a revisão do memorando -, mas de forma suave e sem nunca pronunciar as palavras que queimam a língua.» Logo de início, tinha-se avançado com esta delícia explicativa: «PS pode ser decisivo para moderar "síndroma do bom aluno" de Passos e Gaspar.»

Outra notícia ainda reforçava esta mesma ideia, com o título «CDS e PS: a mesma luta», remetendo para informações sobre o que se teria passado no último Conselho Nacional do CDS e outros segredos internos e avançando interpretações com alguma carga oficiosa.

Mudando de tema, mas não de alvo, um outro texto, intitulado «Álvaro entrega ASAE a um dos seus maiores críticos», contava que «a decisão de Santos Pereira constitui uma das maiores ironias deste Governo: por um lado, entrega a ASAE ao seu único secretário de Estado do CDS, precisamente o partido que tem pedido a cabeça do ministro da Economia; por outro, o CDS foi o partido que mais zurziu a actuação da ASAE, com Mesquita Nunes a destacar-se na sua condenação.» E rematava: «Com o novo arranjo de competências no Ministério da Economia e a entrega da ASAE e da defesa do consumidor a Adolfo Mesquita Nunes, o jovem dirigente do CDS será o secretário de Estado do Turismo com mais poderes desde sempre.»

Enfim, cereja em cima do bolo, está outra peça intitulada «CDS farto das "desconsiderações" do PM», com várias acusações de «deselegância», «descortesia» e «desconsideração» e assegurando que a ausência do líder do CDS e ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros na recente cerimónia de posse dos novos membros do Governo não só tinha sido propositada, como fora «um sinal muito sério de que as coisas não correram de forma adequada.» À saída do último Conselho Nacional do CDS, Paulo Portas tinha explicado a sua ausência nos seguintes termos: «Eu sou por educação consciente dos meus deveres e do sentido de missão. Havia uma razão fundamentada que explica que eu não estivesse na cerimónia e o primeiro-ministro conhece essa razão e isso é mais do que suficiente e necessário» - o que todo a gente interpretou como correspondendo a um motivo de Estado ou a sério impedimento pessoal, garantido na primeira pessoa.

Todas as referidas notícias desta edição do EXPRESSO são assinadas pelo jornalista Filipe Santos Costa, um jornalista experiente e conhecedor, que tem mostrado dispor de fontes altamente colocadas e muito bem informadas no núcleo duro da direcção do CDS ou junto deste. No passado e noutros momentos bem coloridos, várias vezes chegou a relatar com grande profusão de pormenores, as ocorrências e os debates dentro da própria Comissão Executiva do partido.

Por mim, já tenho lamentado algumas vezes a laboriosa intrigalhada movida por estas fontes anónimas, comportamento que considero não só profundamente criticável, mas totalmente irresponsável. Volto a fazê-lo. Se querem pôr em causa a coligação, o Governo e a sua estabilidade, melhor é que se assumam com frontalidade e com clareza, dando a cara e apresentando a linha que propõem, a fim de podermos travar o debate  esclarecedor que se impõe. 

O que não se pode é brincar com Portugal e com os portugueses, muito menos clandestinamente, fazendo-nos correr a todos o risco de nos lançar no caos e numa crise maior. Aqueles que têm suportado sacrifícios enormes, em quebras significativas de rendimento, agravamento brutal de tributos de toda a ordem, desemprego e encerramento de unidades produtivas, não perdoam que se deitem fora os ainda magros resultados do esforço colectivo que está a ser pedido ao país.

Andámos meses a fio a afastar-nos da degradada imagem da Grécia, para voltarmos a esse pesadelo? E por causa de caprichos e segredinhos? Não pode ser.

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