quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Kremlin doméstico


A votação, na Assembleia da República, do voto de pesar pelo falecimento de Václav Havel, na passada quinta-feira, surpreendeu quase toda a gente, embora não fosse novidade, nem surpresa. Tendemos a esquecer o que é realmente o PCP - e é sempre o PCP que faz questão de nos querer lembrar o que é.

Este 22 de Dezembro de 2011 merece ficar na História, pelo menos desta XII Legislatura. 

Vinte e dois anos depois da queda do muro de Berlim e da "revolução de veludo", que devolveu a independência e a democracia à Checoslováquia, a bancada comunista em São Bento votou contra a História, opondo-se ao pesar pela morte do histórico dirigente checo.

O voto do PCP é mais do que apenas o alinhamento passivo pelo que seria o pensamento de Estaline, Kruschev ou Brejnev, e talvez ainda Andropov, se estivessem vivos e ainda reinassem no Kremlin. É mais do que a mera rejeição da "revolução de veludo" e da democracia checa. É ainda o eco pesado dos mesmos tanques soviéticos que esmagaram a "primavera de Praga", em 1968, esse marco de tantas dissidências entre os comunistas do mundo inteiro e também nos comunistas portugueses. E é o sinal de ódio especial a um líder do antigo "bloco comunista" que provou não esquecer o que sofreu e foi sempre, até ao último dia de vida, especialmente consequente na denúncia dos regimes comunistas sobrantes e na promoção internacional da causa da liberdade e da democracia: Václav Havel, precisamente. Em Cuba, o regime castrista detesta-o. Em Lisboa, a bancada do PCP também.

O voto do PCP foi um manifesto. Um manifesto activo contra a democracia. Um manifesto contra a liberdade dos povos. Um manifesto contra o futuro.

É muito curioso este tique recorrente dos comunistas portugueses: em política externa, continuam a agir como "5.ª coluna" do imperialismo soviético. Repete-se sempre, uma e outra vez, já o observei noutras ocasiões: sempre que se trata de matéria de política internacional, o PCP age, em reflexo condicionado, como "franchising" póstumo da Praça Vermelha e dos velhos senhores do Kremlin. 

Quanto a democracia, liberdade, direitos do Homem fundamentais, o que nos safa não são os comunistas domésticos; é o Kremlin soviético que já lá não está.

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