quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Greve geral - três reflexões

Poderia pensar-se que a divulgação, ontem, do manifesto Soares & Outros teria alguma coisa a ver com a greve geral, hoje. Nada disso, certamente. Mário Soares, Isabel Moreira, Joana Amaral Dias, José Medeiros Ferreira, Mário Ruivo, Pedro Adão e Silva, Pedro Delgado Alves, Vasco Vieira de Almeida e Vítor Ramalho nunca seriam capazes de semelhante oportunismo. E colagem política.

Tudo não passou certamente de uma coincidência. Ontem, jogou o F.C.Porto e saiu também o manifesto. Foi só isso.

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O DN pediu-me umas palavras sobre se eu faria greve geral. O que eu disse:
«Não sou solidário com a greve, ainda que compreenda que as pessoas sintam necessidade de desabafar. Vejo esta greve um bocado como aquela enorme manifestação da "geração à rasca": uma grande demonstração de preocupação. Mas sei que é preciso passar por estas dificuldades para sair delas.»



Acrescento mais: se eu estivesse activo, nesta altura, na FTDC - a Federação de Trabalhadores Democrata-Cristãos, de que fui fundador em 1978 - teria declarado isto: "faço greve geral por 1 hora".

Seria uma hora simbólica de coesão social. É legítimo que as pessoas mostrem que estão inquietas e , muito inquietas com a situação e o quadro em que vivem. E que estão unidas: é muito importante que as pessoas se sintam juntas nestas travessias da dificuldade. Também é legítimo (e necessário) que os trabalhadores, os reformados e os pensionistas sinalizem que aceitam partilhar os sacrifícios que todos temos de fazer; mas que estão atentos, que exigirão sempre repartição equitativa da carga e que se mobilizarão contra qualquer tentativa que houvesse de aproveitar a conjuntura de dificuldade para, ao serviço de ideologias e não por estrita necessidade, alterar o modelo social de referência e degradar a qualidade de vida. 

Mas só uma hora na greve geral, para sinalizar um claro "não" à greve geral de protesto político, pois esse caminho não tem o menor fundamento de verdade e só agravaria as dificuldades de todos.

A situação a que Portugal foi conduzido é gravíssima. E o contexto europeu é também de incerteza extrema. São muito difíceis e exigentes os tempos que atravessamos. Só todos com todos superaremos melhor este tempo tão rigoroso.

Também precisamos muito do sindicalismo, nesta altura grave de Portugal: um sindicalismo de concertação, não o sindicalismo de confrontação.

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No meu Facebook, coloquei este estado, manhã cedo:
"Hoje, dia de greve geral, é altura de termos presente uma verdade incontornável: só todos trabalhando mais, conseguiremos sair da crise e manter o nível de vida que temos estado a perder."
Todos temos que o ter sempre presente: a ruína financeira e a debilidade económica em que fomos afundados exigem isso por muito tempo. E o terrível declínio demográfico em que a cultura dominante nos tem feito também decair tornam-no clarinho, mesmo que não fossem aqueles outros factores críticos.

Por muitos e bons anos, teremos que trabalhar mais.

Do que precisamos é de restabelecer uma economia que nos permita isso: primeiro, trabalhar; segundo, trabalhar mais. Só assim venceremos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu defendo por uma greve de zelo onde se deixa acumular as tarefas com um profundo sorriso, como forma de responder aos atestados de estupides que estes governos desde os anos 80 têm vindo a passar. E durante o tempo de zelo cada um deve pensar em soluções alternativas e concertarem-nas colectivamente para que se possa agir colectivamente. Estes governos são insensiveis às manifestações de ruas e uma vez que os sindicatos em Portugal não dispõem de um espírito de concertação fundamentada e firme, Hoje cabe a cada cidadão empenhar-se de forma inteligente e de soluções fundamentadas na sintonia da alavancagem económica e social.

Horácio Moita Francisco disse...

Obviamente, que estou de acordo em grande parte com o meu amigo Ribeiro e Castro, e se me perguntam-se se fazia greve diria conforme.
Mas neste caso concreto, mesmo estando consistente das dificuldades que o Pais enfrenta, mas para a qual não contribui, nem a maioria dos Portuguesas/es, assim,como Democrata Cristão que sou e ainda como sócio da FTDC, por uma questão de coerência, dignidade e seriedade, mostraria a minha total indignação por duas horas, paralisando totalmente o Pais.
Para exigir que estes "senhores" do PS/PSD denominados por bloco central que nos des)governan à 37 anos, passem a respeitar os deveres cívicos e de cidadania dos Portugueses/as. e hoje com a conivência do PP, que ainda o ano passado em Março votou juntamente c/o seu parceiro de coligação a abolição do pagamento por conta das Micro-empresas e agora preparam-se aparentemente para agravar em 25%, ou seja para quem era contra a carga fiscal e agora
c/um secretario de estado na área do fisco aceita e ajuda a implementar estas politicas, diria que no mínimo é vergonhoso e demonstrador de uma grande falta de carácter e de coerência, dignidade e seriedade. Esta não é, certamente uma politica CDS.
Horácio Moita Francisco